O Branco
“Droga, deu branco.”
Ela se levantou, deu outra volta pelo quarto, como
se a sexta volta pudesse mudar alguma coisa. Sentou-se na cama e encarou a
distância a folha em branco e a caneta largados na mesa, sem nenhuma ideia ali
escrita, e agora abandonada como se a culpa fosse da folha.
“Preciso escrever algo, mas nada vem na cabeça,
preciso entregar isso amanhã de manhã. Droga.”
Ela se levantou, a culpa da falta de ideias
começava a incomodar e girar pela mente. Resolveu caminhar lentamente até a
cozinha, tentando se agarrar a qualquer inspiração selvagem que aparecesse em
seu caminho. Ao chegar a cozinha, só se sentia pior por nada ter vindo a mente.
Abriu a geladeira, ou melhor, o deposito de memórias perdidas, e ali ficou
encarando os restos do almoço e algumas frutas.
1 minuto. 2 Minutos. 5 Minutos.
“Quem sabe comer não me dá a inspiração que falta?”
Pegou os restos do almoço, fechou a geladeira, pegou
um copo de água e começou a voltar para o quarto. Nos mesmos passos lentos
torcendo para que a inspiração surgisse do inesperado.
Nada.
Comeu. Estava horrível, velho e frio. Começou a se
questionar se ia mesmo dar tempo. Nem se deu ao trabalho de procrastinar ainda
mais levando o prato. Sentou novamente em frente a folha e a caneta e tentou
novamente.
“Lara, a escritora em branco. Se um dia escrever
minha biografia vai ser assim.”
5 Minutos. 10 Minutos
Por fim se levanta, com uma mistura de ansiedade e
nervosismo, e o fato de não ter ninguém perto piorava a situação. Olhou para os
lados em busca do telefone, estava completamente perdido na bagunça que era seu
quarto. Começou vasculhar embaixo de cada peça de roupa ou cobertor jogado pelo
quarto, até que finalmente o encontrou.
“Bom o fuso não vai me ajudar muito, mas quem sabe
ele ainda tá acordado?”
*tummm* *tummm* *tummm*
-Alô, Lara? O que foi? Aconteceu algo?
-Oi pai, não aconteceu nada, só tô sem ideias. Te
acordei?
-Não acordou não, você sabe que gosto de trabalhar
de madrugada que não tem ninguém pra me distrair.
-É eu sei de quem puxei. Podia ter puxado a
criatividade também.
-Lara, não sei de onde você tirou isso de que está
sem ideias. Você está é com ideias demais, tantas ideias que elas atrapalham
umas às outras. Arrume a cabeça e vá escrever. Quando acabar me mande que
quero ler. Beijo.
-Beijo.
Quando desligou o telefone, ficou tão intrigada com
o pensamento de ter ideias demais que aquilo só fez tudo piorar. Optou então
por meditar.
“Ora se preciso arrumar a cabeça por que não
meditar?”
Após 20 minutos decorridos a única coisa que Lara achou
foi sono. E começou a ponderar a ideia de dormir e tentar escrever em cima do
prazo de entrega, afinal nenhuma ideia veio à mente, ou melhor, as ideias
estavam confusas demais para fazerem sentido.
Enfim desistiu, arrumou a cama, pegou seu
travesseiro favorito, seu cobertor mais quente, vestiu o pijama e deitou. No
escuro continuava pensando.
“Vou conseguir dormir por 4 horas. Já estou
sonolenta. Adoro essa moleza que o sono da na gente. Já consigo sentir minha
mente mergulhando no escuro a os pensamentos sumindo.”
A escritora ficou ali deitada no escuro, sendo
abraçada pelo sono e sentindo suas ideias escorrerem da sua mente até quase
cair no sono, quando foi acordada por um pensamento.
“Droga, tive uma ideia.”
Fonte da Imagem: linkzan |