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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Pedro Brant

Brainstorm sobre Suicídio

Desta vez começo com apenas uma pergunta. Já sentiu vontade de morrer? 

Sim? Então deixe-me esclarecer e reformular. 

Ter vontade de morrer porque seu dia foi cansativo, estressante, ou porque deixou sua comida favorita queimar e agora vai ter de comer miojo com salsicha não contam. Estou falando de vontade de morrer vendo a morte a solução de seus problemas, chegando ao ponto de elaborar ou até mesmo tentar realizar a própria morte. 

Agora, reformuland, já sentiu vontade de se matar?

Se em algumas das vezes você respondeu “NÃO” eu te convido a abrir a mente para ver o suicídio pela visão do suicida. Caso sua resposta seja “SIM” na última pergunta, por favor, me acompanhe até o fim.

Pular de um prédio em direção aos fios de alta tensão, tomar uma cartela cheia de remédios tarja preta, comer veneno para rato ou até mesmo namorar uma faca procurando o melhor jeito de se matar sem sofrer no processo. Tudo isso ocorreu comigo ou com pessoas próximas a mim, mas até chegar neste ponto existe um longo caminho, e ele não é, e nunca foi, sem volta.

Vamos esclarecendo as coisas aos poucos. 

O suicídio é visto como a forma máxima e final de fuga e tentativa de resolução de problemas que a pessoa com tendência ao suicídio vê como única solução. Neste ponto estamos tão convictos que não tem outra solução, pois tudo que tentamos já falhou e nada deu resultado que cada vez mais o fim da vida parece uma solução plausível para cessar aquela sensação de dor e angustia.

Por acaso, você já sentiu que você não tinha importância? Ou que sua presença não era relevante ou significativa? Ou que simplesmente nada dava certo? Já sentiu durante semanas aquela vontade de só não existir? Nunca levantar da cama? Ignorava a fome porque não tinha disposição nem para comer? Já realmente desistiu da vida? Muitos SIMs aqui podem significar depressão.

Neste momento que entramos num terreno pouco sólido para a maioria das pessoas, então antes de continuar tenham ciência de que depressão não é uma tristeza que passa. Não é só falta de sol. Não é só preguiça. Não é frescura. Não é falta do que fazer. Ao mesmo tempo, dizer que qualquer estado de tristeza é depressão também está errado. Posso ter perdido alguém muito importante para mim e passar semanas triste, mas me recuperar e seguir a vida, como posso entrar num estado de depressão sem ter perdido ninguém e nem nada grave ter ocorrido. Quem realmente rege a depressão é a química dos nossos cérebros. Claro que fatores externos ajudam, mas não são exclusivos.

A depressão é um ingrediente muito poderoso na receita de formação da ideia de suicídio. Sob influência da depressão é como se iniciássemos uma luta. É como se a mente entrasse num dilema ético entre acabar com o próprio sofrimento e no processo causar mais sofrimento nos outros. Nesta luta é comum perder as batalhas quando estamos nela sozinhos. Sem alguém que pode ser amigo, parente, colega; e, em muitos casos, da ajuda profissional correta, esta luta se torna cada vez mais difícil. 

Até que chegamos ao ponto de inflexão.

Deste ponto em diante cada segundo se torna mais importante para quem está de fora e nós de dentro nos sentimos cada vez mais impotentes. É o ponto em que a vontade de morrer supera o receio de causar dor em quem gostamos, é quando a guerra interna acaba e o lado egoísta da disputa ganha. Neste momento apenas terminar com aquilo que te machuca importa e, nesse caso, viver é que machuca, e se no processo você acabar causando dor as pessoas a sua volta é apenas parte do processo. Neste ponto é quando a ideia do suicídio se solidifica. 

Para quem nunca havia pensado ou ouvido nada disso pode parecer bizarro, e hoje para mim é bizarro pensar que passei por isso, mas estava com o julgamento distorcido pelo desequilíbrio químico que meu cérebro estava passando, e quando você está neste estado estes pensamentos são mais normais que alguém que nunca passou por isso pode imaginar.

Usando uma metáfora clássica, o copo está sempre vazio para o suicida em potencial. Veja que disse vazio e não meio vazio. Nada é bom, tudo está ruim, os lados negativos de tudo são exagerados enquanto os positivos diminuídos.

É como imaginar que nossa felicidade fosse uma estrada. Estamos andando no plano a maior parte do tempo, pode ter umas subidas que demoram mais a voltar para o nível que estávamos, ou umas descidas que demoramos mais a subir de volta para a origem, mas no fim sempre voltamos ao mesmo nível do começo. Com a depressão é como se tivéssemos pegado um túnel embaixo da estrada, estamos sempre abaixo do nível de felicidade que normalmente estaríamos, e para piorar, nas subidas o túnel sobe menos e nas descidas ele desce mais.

Mas, depois de tudo isso, se voltarmos ao início do texto eu falei que não era um caminho sem volta. O que um suicida potencial precisa não é que todo mundo pergunte se ele está bem, ele precisa de apoio, muitas vezes esse apoio é aquele empurrão que faltou para ele procurar um psicólogo ou psiquiatra. Para ele o mundo é uma merda, incorrigível e cada vez pior. O mundo pode até ser uma merda, mas não é incorrigível, e nem é feito só de maus momentos. A felicidade não é eterna nem constante, mas é alcançável, e formada de pequenos picos de alegria. 

Para os SIMs no início do texto, saibam que existe volta e vocês não precisam andar esse caminho sozinhos. Para os NÃOs, ajudem a quem precisa, espero ter deixado claro suficiente que há muito mais acontecendo do que podemos ver.

“Hold on tight
This ride is a wild one
[…]
Now don't lose your fight kid” Missing You – All Time Low

“Some days it feels like I’m still getting nowhere
I walk in circles round and round

[...]
Some days are good
Some days are tough
Some days these dreams just ain’t enough” Somedays – Lostprophets

Centro de Valorização a Vida - Disque: 141
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