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sábado, 18 de dezembro de 2021

Pedro Brant

Brainstorm sobre heróis

 Você tem consciência de como seus atos influenciam as pessoas ao seu redor? Ou invertendo a visão dos fatos, você deixa as pessoas saberem o quanto elas influenciaram suas vidas? Acredito que para a maioria, a resposta de ambas seria não.


Por esse simples motivo vários heróis invisíveis nascem sem que nunca saibamos que foram importantes para alguém. Sejam por simples ações rotineiras, ou um bom dia numa hora apropriada, uma mão amiga naquele momento desesperador, uma companhia, uma conversa, uma ideia, enfim, qualquer que seja o motivo, esses heróis acendem uma chama que estava morrendo ou, até mesmo, apagada. Sem nunca saberem como fizeram as chamas voltarem a queimar dentro daqueles que foram salvos, eles seguem seus caminhos sem saber que fizeram algo por alguém.

Temos dois cenários envolvendo nossos heróis ou heroínas do dia-a-dia.

Vamos ao primeiro, é quarta-feira, aquele cliente super exigente te fez ir pro trabalho uma hora mais cedo, você não pode nem acordar com seus filhos, dormiu mal por causa do horário e da preocupação, essa reunião põe muita coisa em jogo, seu chefe está te pressionando por resultados. Soa ligeiramente familiar? Trocando contextos parece muito a vida geral de um adulto certo?

Agora peguemos nosso indivíduo indo ao trabalho, entra no ônibus e prepara para seguir caminho até o trabalho, são geralmente 90 minutos, e neste horário com certeza iria em pé, o que por si só é um problema pois aquela dor do joelho voltou com força total essa semana por conta do estresse.

Vendo a cara de dor daquela pessoa, alguém aleatoriamente o cutuca e oferece seu lugar. “Já vou descer na próxima, pode ficar aqui.” Situação rara não? Estamos cada vez mais egoístas. Cada vez menos ajudando o outro em prol do nosso bem.

Mas somos uma comunidade e a primeira situação sempre ocorre quando nos damos conta disso. Sempre devemos olhar o melhor para nós como sociedade. Seja comprando no comercio local quando possível, valorizando e divulgando o trabalho de um colega ou amigo.

O segundo cenário, ocorre quando apenas nos contaminamos com bom astral.

Vamos a um exemplo bem didático de contaminação de astral: “O motorista pode correr a quarta série não tem medo de morrer”, ou qualquer outro canto de pré-adolescente se encaixa no contexto, você é carregado pelo astral que o ambiente te impõe. 
Mas e se a pessoa, ou até mesmo você, for aquela pessoa que impõe o astral, positivo no caso?

Vamos a um exemplo real, ONGs que levam descontração para hospitais infantis. Não preciso dizer que hospital não é um mar de alegrias, e que uma pessoa feliz não consegue geralmente contaminar muita gente lá, mas essas pessoas têm esse dom e contaminam todo um hospital trazendo sorrisos.

E no dia a dia? É possível o mesmo efeito?

Quem chegou no trabalho viu um humor generalizado e baixo. E em seguida, alguém trouxe o astral pra cima, algum colega que contagiou os outros com bom humor. Sabe aquele dia que você estava especialmente mais cansado, mais infeliz, desgostoso de estar ali, e alguém tem a ideia de sair pra almoçar fora num lugar diferente, ou pedir uma comida, ou quem sabe um jogo pro intervalo.

No fim não importa o que foi levado por alguém para o ambiente, mas o resultado. Uma a uma as pessoas são sugadas para aquele ambiente com um astral mais leve. Afinal somos humanos, temos nossas oscilações, temos nossos momentos, e podemos ajudar quem não está num bom momento compartilhando um pouco do nosso.

Mas afinal? Quem somos nesses casos? Quem queremos ser?

Vivemos em comunidade, existimos porque trabalhamos juntos, tendo ou não consciência disso, mas a grande mudança se dá quando tomamos consciência disso e nos tornamos parte desse esquadrão de heróis invisíveis.

Já contou pro seu herói invisível como ele foi importante pra você hoje? Acho que devia, você pode se tornar o dele.
 
Fonte da Imagem: keyword-hero.com


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Pedro Brant

O Ceifador

Aqui estou eu, por esse período interminável no escuro, esperando o próximo nome que teria sua alma levada embora do plano terreno. Não sabia a quanto tempo eu já era um ceifador, não tinha mais muitas das minhas memórias, só tinha as memorias dos meus erros e falhas de quando era vivo. Era forçado a revivê-las sempre, pois eram minha única companhia.


Isso nunca me deixava esquecer o porquê de eu estar aqui, vivendo este purgatório. Um suicídio. Tirar uma vida, mesmo que seja a sua própria, sem razão, era motivo de punição.


Estava parado no escuro, sem roupas, apenas com a veste preta pela qual ceifadores são conhecidos e eternamente segurando a foice. Não, ela não é o instrumento de matar, ela só desconecta a alma do plano terreno, e assim podemos levá-la embora.


Comecei sentir a queimação no meu braço esquerdo, o nome da próxima pessoa marcado na minha pele. Era hora de trabalhar novamente.


É uma função muito triste levar pessoas embora. Poucas são as que realmente estão prontas, sentem que terminaram sua passagem na terra. Na grande maioria separamos amores, diminuímos famílias, tiramos pais de seus filhos, ou filhos de seus pais, destruímos sonhos...


Quando menos me dei conta já estava na frente da casa da próxima pessoa. Como sempre, para a morte, as portas estão destrancadas. Vou caminhando até o quarto em busca da alma que deveria levar comigo, porém...


- Quem é você? Como entrou aqui? Por que está fantasiado de morte? – Questionou como um raio ao me ver.


Perguntas para o representante da morte são normais, mas todos sabem já que estão mortos. As vezes barganham, as vezes entram em negação. Mas dessa vez algo parecia diferente, não parecia uma simples negação a morte.


- Eu sou o representante da morte. – Comecei – Você morreu e vim levar...


Parei imediatamente. Estou a tanto tempo fazendo isso, que não me dei conta da coisa errada. Ela não havia morrido. Ainda. Reconheci os sinais, ela estava com tudo pronto para um suicídio. Como eu havia feito.


- Você não está morta. -Falei baixo, como se para notar a realidade dos fatos.


Congelada, com os remédios ainda na mão, ela me olhou.


- Já vou estar, se você veio me buscar, pode esperar que já vou contigo.


Senti medo, ver meu erro sendo cometido de novo, não podia deixar acontecer novamente, não importa a punição, já estou no purgatório mesmo o que poderia ser pior?


- Não faça isso. A vida é nosso maior presente. – Comecei.


- PRESENTE? Acho que você não tem noção de como é estar vivo. Você só tem que carregar que morreu.


- Talvez eu realmente tenha me esquecido de como é estar vivo. Não sei nem meu nome mais. Mas sei de algo importante, é na vida que a gente pode aproveitar.


Ela fez menção a me interromper. Ergui a mão em sinal que ia continuar. Eu precisava continuar.


- Eu me matei, não sei quanto tempo atrás mais. Eu tinha problemas sem solução, perdi aqueles que chamava de amigos, vi meus sonhos morrerem, minha vida perder sentido. Até que decidi que não valia a pena viver.


- Se você me entende, por que está sendo advogado da vida aqui?


- Porque eu não poderia estar mais errado. Somente na vida podemos achar solução para nossos problemas, apenas vivos podemos encontrar novos amigos, criar novos sonhos, até mesmo achar novos problemas para resolver. Podemos mudar de direção, começar tudo de novo, fazer dar certo de outros jeitos. Depois de morto só te sobra lamentar o que você poderia ter feito.


- Vida – segui dizendo – é como um relógio, só anda pra frente, e se para, não tem mais o que ser feito com ele. Você sempre pode tentar de novo, mudar tudo, fazer diferente, mas só enquanto estiver viva.


Ela soltou os remédios, o alívio me acometeu. Me senti humano de novo, pela primeira vez, desde que esse purgatório começou.


- Queria ter um amigo como você.


- Você pode. – eu disse dando um sorriso – Seres humanos são tão vastos e tão diferentes entre si, que com certeza você vai achar alguém além de mim pra te dar sermão.

- Obrigada.


E depois dessa única palavra eu fui tirado de lá. Ela havia desistido, não havia mais morte ali, não tinha porque um ceifador estar ali. Agora era hora de eu encarar a punição por evitar uma morte.


Quando abri os olhos, não me vi no breu de sempre, não tinha mais as marcas dos nomes que ceifei marcados na minha pele, eu não era mais um ceifador. Parece que ensinar minha lição era minha libertação. Posso seguir para o descanso em paz finalmente. 

Fonte da imagem: https://www.redbubble.com/

    

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