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sábado, 30 de dezembro de 2017

Pedro Brant

Brainstorm sobre Ciclos

Se esse ano me ensinou algo foi que a vida é imprevisível.

Nada do planejada ocorreu, nada do imaginado ocorreu. Planos? Expectativas? Previsões? Os últimos 365 dias foram dias de surpresa. Não bastaram ser surpresas, elas foram sequenciais, mal tinha tempo para respirar e 2017 atacava novamente. Ahh querido ano, queria férias de você, incontáveis vezes eu queria que você acabasse logo, pois não aguentava mais. Tolo eu, mal sabia que tudo isso era parte do que este ano guardava pra mim.

Este ano me mostrou também como o tempo faz bem para muitas coisas, e muito mal a outras. Olhe para um exemplo simples, se deixarmos uma foto exposta ao tempo por muitos anos ela vai se desbotar, mas apenas a foto vai se apagar, as lembranças e sentimentos provocados pelo momento ali registrado estarão tão vívidas ou, quem sabe, até mesmo mais do que quando o momento ocorreu.

Lindo ano, belo ano, ano cheio de histórias, algumas boas, muitas perdidas, desgastadas pelo tempo rapidamente, outras muito tristes e ruins. E novamente este ano veio com seus ensinamentos, mostrando da dor, um caminho; dos problemas, o desenvolvimento; das dificuldades, a graça da vida.

Estamos tão cercados e tão concentrados no nosso dia a dia que esquecemos que o tempo passa, que o mundo muda, que a vida acaba. Querido ano, dessa vez você não me deixou esquecer nada disso não foi? Foram desafios intransponíveis, frustrações invencíveis, erros sequenciais e ainda assim estávamos ali lutando. Com cada nova barreira, você jogava uma luz, o raio de esperança, como uma isca, esperando que eu fosse, e eu sempre ia, e cá entre nós, eu não tenho medo, sempre vou acabar indo.

Em acontecimentos, 2017 conseguiu se equiparar a 2016, nada de ano pacato, muito pelo contrário. Seja no mundo, com extrema direito tentando renascer e o mundo reagindo como pode, seja no Brasil, com o governo atual nos atacando sem parar, e nós, tentando nos defender como conseguimos, seja no plano pessoal, que muitos de nós enfrentamos batalhas novas nunca antes travadas. Este ano foi cheio, muito cheio.  

Este ano deixa suas cicatrizes, e como toda marca de guerra deve deixar um ensinamento. Quem sou eu pra dizer qual é ele, somos humanos, temos o dom do raciocínio complexo, e o mais importante, somos diferentes. O núcleo da mensagem é o mesmo, mas a mensagem é individual. Cada um achará ela dentro de si e daqueles que o cercam. Te convido a achar a sua. A minha, o mar me contou hoje.

Por último, mas não por fim, pois o ciclo se renova, 2017 foi um ano pedágio. Passei por vários degraus custosos, e cada passo foi um ensinamento como nunca antes, uma mudança, uma transformação, ou até mesmo uma revelação. Ao pagarmos pedágios ganhamos passagem para a próxima parte da estrada, e estou pronto para seguir por novas rotas, meus pedágios estão pagos a estrada a minha frente está livre, só cabe a mim determinar o caminho, ou seguir por ele até um destino desconhecido.

A todos que chegaram comigo até aqui, só tenho uma coisa a dizer, que o 2018 de vocês traga tantas esperanças, sonhos, desejos, amores, felicidades e alegrias quanto possível. Que os pedágios da vida sejam mais leves pra nós, mas que a vida não nos negue a nossa dose de surpresas, afinal, queremos curtir a vida e pra isso ficar melhor ela tem que trazer um pouco de graça.

Feliz Ano Novo, um incrível novo ciclo para todos nós.


Fonte: Arquivo Pessoal (Londres - 01/01/2014)

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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Pedro Brant

Brainstorm sobre Suicídio

Desta vez começo com apenas uma pergunta. Já sentiu vontade de morrer? 

Sim? Então deixe-me esclarecer e reformular. 

Ter vontade de morrer porque seu dia foi cansativo, estressante, ou porque deixou sua comida favorita queimar e agora vai ter de comer miojo com salsicha não contam. Estou falando de vontade de morrer vendo a morte a solução de seus problemas, chegando ao ponto de elaborar ou até mesmo tentar realizar a própria morte. 

Agora, reformuland, já sentiu vontade de se matar?

Se em algumas das vezes você respondeu “NÃO” eu te convido a abrir a mente para ver o suicídio pela visão do suicida. Caso sua resposta seja “SIM” na última pergunta, por favor, me acompanhe até o fim.

Pular de um prédio em direção aos fios de alta tensão, tomar uma cartela cheia de remédios tarja preta, comer veneno para rato ou até mesmo namorar uma faca procurando o melhor jeito de se matar sem sofrer no processo. Tudo isso ocorreu comigo ou com pessoas próximas a mim, mas até chegar neste ponto existe um longo caminho, e ele não é, e nunca foi, sem volta.

Vamos esclarecendo as coisas aos poucos. 

O suicídio é visto como a forma máxima e final de fuga e tentativa de resolução de problemas que a pessoa com tendência ao suicídio vê como única solução. Neste ponto estamos tão convictos que não tem outra solução, pois tudo que tentamos já falhou e nada deu resultado que cada vez mais o fim da vida parece uma solução plausível para cessar aquela sensação de dor e angustia.

Por acaso, você já sentiu que você não tinha importância? Ou que sua presença não era relevante ou significativa? Ou que simplesmente nada dava certo? Já sentiu durante semanas aquela vontade de só não existir? Nunca levantar da cama? Ignorava a fome porque não tinha disposição nem para comer? Já realmente desistiu da vida? Muitos SIMs aqui podem significar depressão.

Neste momento que entramos num terreno pouco sólido para a maioria das pessoas, então antes de continuar tenham ciência de que depressão não é uma tristeza que passa. Não é só falta de sol. Não é só preguiça. Não é frescura. Não é falta do que fazer. Ao mesmo tempo, dizer que qualquer estado de tristeza é depressão também está errado. Posso ter perdido alguém muito importante para mim e passar semanas triste, mas me recuperar e seguir a vida, como posso entrar num estado de depressão sem ter perdido ninguém e nem nada grave ter ocorrido. Quem realmente rege a depressão é a química dos nossos cérebros. Claro que fatores externos ajudam, mas não são exclusivos.

A depressão é um ingrediente muito poderoso na receita de formação da ideia de suicídio. Sob influência da depressão é como se iniciássemos uma luta. É como se a mente entrasse num dilema ético entre acabar com o próprio sofrimento e no processo causar mais sofrimento nos outros. Nesta luta é comum perder as batalhas quando estamos nela sozinhos. Sem alguém que pode ser amigo, parente, colega; e, em muitos casos, da ajuda profissional correta, esta luta se torna cada vez mais difícil. 

Até que chegamos ao ponto de inflexão.

Deste ponto em diante cada segundo se torna mais importante para quem está de fora e nós de dentro nos sentimos cada vez mais impotentes. É o ponto em que a vontade de morrer supera o receio de causar dor em quem gostamos, é quando a guerra interna acaba e o lado egoísta da disputa ganha. Neste momento apenas terminar com aquilo que te machuca importa e, nesse caso, viver é que machuca, e se no processo você acabar causando dor as pessoas a sua volta é apenas parte do processo. Neste ponto é quando a ideia do suicídio se solidifica. 

Para quem nunca havia pensado ou ouvido nada disso pode parecer bizarro, e hoje para mim é bizarro pensar que passei por isso, mas estava com o julgamento distorcido pelo desequilíbrio químico que meu cérebro estava passando, e quando você está neste estado estes pensamentos são mais normais que alguém que nunca passou por isso pode imaginar.

Usando uma metáfora clássica, o copo está sempre vazio para o suicida em potencial. Veja que disse vazio e não meio vazio. Nada é bom, tudo está ruim, os lados negativos de tudo são exagerados enquanto os positivos diminuídos.

É como imaginar que nossa felicidade fosse uma estrada. Estamos andando no plano a maior parte do tempo, pode ter umas subidas que demoram mais a voltar para o nível que estávamos, ou umas descidas que demoramos mais a subir de volta para a origem, mas no fim sempre voltamos ao mesmo nível do começo. Com a depressão é como se tivéssemos pegado um túnel embaixo da estrada, estamos sempre abaixo do nível de felicidade que normalmente estaríamos, e para piorar, nas subidas o túnel sobe menos e nas descidas ele desce mais.

Mas, depois de tudo isso, se voltarmos ao início do texto eu falei que não era um caminho sem volta. O que um suicida potencial precisa não é que todo mundo pergunte se ele está bem, ele precisa de apoio, muitas vezes esse apoio é aquele empurrão que faltou para ele procurar um psicólogo ou psiquiatra. Para ele o mundo é uma merda, incorrigível e cada vez pior. O mundo pode até ser uma merda, mas não é incorrigível, e nem é feito só de maus momentos. A felicidade não é eterna nem constante, mas é alcançável, e formada de pequenos picos de alegria. 

Para os SIMs no início do texto, saibam que existe volta e vocês não precisam andar esse caminho sozinhos. Para os NÃOs, ajudem a quem precisa, espero ter deixado claro suficiente que há muito mais acontecendo do que podemos ver.

“Hold on tight
This ride is a wild one
[…]
Now don't lose your fight kid” Missing You – All Time Low

“Some days it feels like I’m still getting nowhere
I walk in circles round and round

[...]
Some days are good
Some days are tough
Some days these dreams just ain’t enough” Somedays – Lostprophets

Centro de Valorização a Vida - Disque: 141
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domingo, 14 de maio de 2017

Pedro Brant

Brainstorm sobre Parenting

Nem todos nascemos para ser pai ou mãe. Alguns de nós, por opção, passaram pela vida sem saber o que é isso, como é ter um filho. Outros, muitas vezes não por opção, descobrem como é ter um filho, alguns desses já tinham o desejo, outros veem o sentimento e desejo nascer junto com o filho, mas existe aquela parcela que nunca verá isso nascer.

Mas antes de prosseguir, precisamos de uma definição, vamos ver um significado figurativo retirado de um dicionário:

Mãe: Aquela oferece cuidado, proteção, carinho ou assistência a quem precisa.

Se tratando de uma sociedade que o papel de criação de filho não compete mais apenas a mulher, poderíamos dizer que Pai é o masculino análogo da mãe neste caso. Certo?

Vamos agora pensar como nós definimos socialmente pai e mãe. Pensou? Agora guarde o que pensou, no final vamos comparar.

Algumas pessoas buscam título de pai e mãe, como se fosse um achievement a ser atingido, um souvenir que se compra numa viagem, um troféu que se põe na estante, por vezes apenas por pressão social. Mas já parou para se pensar que faz muito mais sentido esse título ser merecido ao invés de recebido?

Vamos a 3 cenários com 3 diferentes mulheres, temos uma mulher que adota uma criança abandonada, temos uma mulher que cria uma criança órfã, e temos uma mulher que engravidou por acidente.

No primeiro cenário, nós temos aquela pessoa que tem o desejo real de ter um filho e cuidar dele, dando carinho, educação, suporte e atenção, e maneira que ela escolheu foi adotar uma criança que hoje não tem nada disso.

No segundo cenário, temos alguém que não deseja ser mãe, mas se doa assim mesmo, seja por empatia, seja por carinho. Costumamos chamar essas mulheres de mãe “do coração” (as aspas existem pois acho essa expressão completamente incorreta, mas já chegaremos lá).

No terceiro, sem contexto temos infinitos cenários, a mulher poderia ou não desejar ser mãe, se não, ela poderia ou não dar o filho para adoção (e não, isso não é um ato egoísta, e sim de amor, mas fica de assunto para outro texto), e se não desse para adoção, ela poderia ou não desenvolver o desejo de ter um filho. Caso todas as respostas destes questionamentos sejam não, temos um cenário de uma criança crescendo num lar sem apoio, sem carinho.

No primeiro cenário temos uma mãe “adotiva”, mas hoje já aprendemos suprimir o “adotiva”, pois ela fez por merecer o título que tem. No segundo relutamos em dar o título de mãe, mesmo sendo ela quem cria, cuida e educa, e quando aceitamos, damos título chamando de mãe “do coração” para diferenciar das demais, apenas porque não foi ela quem gerou, ou não é quem consta na certidão. No terceiro, não questionamos, damos o título sem nos opor, apenas porque foi esta mulher quem gerou e por isso ela deve ter o título.

Tudo isso, novamente, é análogo aos homens e pais.

Tratar o título de mãe/pai como algo a ser merecido nos levaria a grandes mudanças de paradigmas. Por exemplo, existem vários tipos de relações humanas, familiares, amizades, amorosas. É aceitável, hoje, que um casal termine e nunca mais volte a se falar (inclusive é bem esperado), ou que melhores amigos acabem brigando um dia e nunca mais se falem, mas em relações familiares isso não é aceitável (não normalmente), exatamente porque o título é tratado como algo imposto a quem o carrega, jamais podendo abrir mão dele. Isso muda completamente com a mudança de paradigma, teríamos rompimentos de relações familiares danosas as partes, uma vez que elas não são mais eternas, não havendo a obrigatoriedade que elas continuassem a existir se não fossem benéficas.

Mães e Pais, são aqueles que educam, criam, ajudam, dão carinho e amor, e em troca receberão tudo isso, pois como toda relação humana, a familiar também é uma via de mão dupla.

Agora, voltando a definição de pai/mãe que você havia pensado no início do texto. Quantas pessoas você conhece que na definição tradicional não tem o título, mas o merecem e ele nunca foi dado, e quantas o detém sem na verdade o merecer. Acaba sendo muito comum, mesmo que não aceitemos, conhecemos um avó de um amigo, o pai de um vizinho, sua própria mãe ou até mesmo a sua bisavó. Felizmente, hoje com a menor imposição social para que as pessoas sejam pais, o número destes casos tem diminuído.

Para todos aqueles e aquelas que conquistaram o direito ao título, este dia é de vocês, sejam mães ou pais. Não é simples aceitar e abraçar todos os desafios que a vida impõe ao escolher cuidar de alguém, é compartilhar uma parte de si, e passar seus valores e conhecimentos adiante. Por isso existem dois dias para comemorar a existência dessas pessoas que merecem serem chamadas de mãe e pai.

Fonte da Imagem: Parkson's Movement

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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Pedro Brant

Prédios


‘Já pensou quantas famílias estão ao nosso redor?’
“Que deu em você pra vir com um papo cabeça desse?” “Só come o fundi”
‘Fundi...’
‘Vem cá.’ ‘Prometo que vai ser rápido.’

Puxou o garfo de sua boca, passou as mãos pela cintura para evitar uma possível fuga, afinal, queria provar seu ponto.
Ficaram um ao lado do outro na janela. Era o décimo segundo andar, mesmo assim não tinham uma vista plena. Ficaram ali olhando ao redor.

“Qual o ponto?”
‘Shh. Pera que já te explico, só observe.’

Atendeu o pedido e apenas observou. Eram 5 prédios dentro do campo de visão, um mais baixo, a direita, todos os outros deviam ter uns 15 andares. Vários kitnets em um, ao lado eram apartamentos de vários cômodos, o mais baixo tinha um por andar.

‘Quantas famílias estão aqui ao nosso redor?’
“Não faço ideia. Mas pelos prédios na frente diria umas 30. Quantas são?”
‘Não sei. Isso que me intriga. Vivemos a 100 metros de mais famílias que conheci em anos da vida, e não sei nem os nomes deles, nem nos cumprimentamos. Olha ali.’

Um casal andava pela sala, pareciam estar preparando o jantar.

“Parece que alguém teve uma ideia parecida com a nossa”
‘Ou podem ser melhores amigos, ou quem sabe amantes, amigos coloridos, ou só usaram um app de relacionamento. Viu como o mundo é heterogêneo? Todos somos diferentes, mesmo parecendo iguais?’
“Infinitas histórias do mesmo ponto de partida”
‘Infinitas possibilidades’
“Aquele trio ali”

Três pessoas forravam uma coberta no chão e se sentavam e deitavam no chão do cômodo. Estavam rindo muito enquanto conversavam.

‘Poliamor’
“Você também vai na mais improvável logo de primeira? Podem ser amigos bebendo.”
‘Ou só felizes porque as provas acabaram’

Se olharam enquanto pensavam nas impossibilidades que estavam imaginando como se preparando para um desafio.

‘Estão esperando uma striper e um gogoboy que ganharam na rifa. Vai lá improvável, mas não impossível. Quero ver fazer melhor.’
“Faço sim, forraram o chão pois não podem tocar o chão durante o ritual de invocação que farão e precisam descarregar as más vibrações antes de começar.”

Riram tão alto que um dos três se virou para eles e sorriu.
Ficaram sem reação por um segundo, mas depois de tudo que conversaram, porque não. Levaram a mão e acenaram. E receberam de volta um beijo.

‘Que fofo.’ ‘Sua teoria fica mais plausível agora.’
“Falando em minha teoria, minha janta está proporcionalmente menos plausível.”

Mas estava falando sozinho, pois outra janela acendeu, dessa fez a pessoa estava sozinha. Se dirigiu até o batente e sentou-se com as pernas para o lado de fora do prédio.

‘Fazemos algo?’
“Por quê?” “Tá indo pelo óbvio?”
‘Sim, parece um suicida.’
“Ou então tava afim de apenas um minuto de paz e liberdade, queria ter uma sacada e não podia, por isso senta na janela.”

Em pouco tempo chega outra pessoa por trás do primeiro e entrega um balde com um pano.

‘Ou ele só vai limpar a janela?’ ‘Ah não!’
“Depois dessa vamos voltar pro fundi gelado”
‘Quantos será que chutaram que vamos comer fundi’
“Sei lá, mas aposto que alguns apostaram no sexo”

Voltaram para a comida, e ali ficaram rindo de suas ideias.

Fonte: flickriver

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