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sábado, 9 de abril de 2016

Pedro Brant

O livro

Estávamos de mãos dadas no meio da noite, sentados no chão em círculos em frente aquele banquinho velho. A vela a nossa frente tinha a chama tremulante, como se algo a soprasse muito gentilmente, mas não havia nenhuma corrente de ar. Encarávamos o fogo, em silencio esperando algo maior acontecer, afinal estávamos tentando invocar demônios e fantasmas.Tudo começou naquela manhã. Eu, Raphael o grande, havia encontrado um livro antigo cheio de escrituras místicas jogado em uma casa abandonada. A capa era muito interessante, diferente de tudo que já tinha visto, e foi tentador demais para simplesmente abandonar o livro jogado no meio das ruínas abandonadas daquela velha casa.

Chamei todos os meus amigos, assim que pisei em casa, mas enquanto não chegavam fiquei observando o livro, todos os detalhes da capa, sem nenhum escrito, todo em couro, surrado e gastado, com apenas dois orifícios costurados que davam a impressão de olhos. Assustador e intrigante, mas a curiosidade era de família e era maior que qualquer temor.  O livro era amarrado com uma tira de couro cru, mas estava disposto a abrir apenas com meus colegas, afinal quem sabe o que pode sair dali.

Nos breves minutos a sós com o livro parecia que ele cochichava, instigando quem estivesse perto a abri-lo, e eu que já me sentia tentado a abrir só se sentia cada vez mais atraído por esse impulso. Contive o impulso, principalmente pelos delírios de pensar que tipos de coisas poderiam estar guardadas ali.

*beep*

A campainha tocou e me roubou todos os pensamentos mais devaneados. Chegando a porta, todos estavam lá. Foram se encontrando pelo caminho, sedentos pela curiosidade do achado. Deixei todos esperando na sala enquanto buscava o artefato. Quando o cheguei com o livro em mãos todos prenderam a respiração e se sentiram consumidos pelo medo do que poderia ser aquilo, o mesmo medo instigante que mais cedo havia me consumido.

Sentaram ao redor do livro para confabularmos a respeito do que deveríamos fazer. Em poucos minutos a excitação falou mais alto e já havíamos decidido por voltar a casa abandonada com algumas velas e ler o livro no local onde foi achado. Mal vimos o caminho, quando percebemos estavam cruzando o portão e entrando na casa, a adrenalina tomando conta de ada parte de nossos corpos.

Sentamos no que parecia um dia ter sido uma sala de jantar, puxamos um banco velho acendemos a vela e colocamos no banco. Nesse momento, todos se entreolharam e ficaram encarando o livro em minhas mãos. Mesmo sem nenhuma palavra ser pronunciada nesse momento, todos tinham entendido que havia chegado a hora de abrir o livro.

“Raphael abra o livro”

E finalmente me deixei dominar pela vontade de abrir o livro e retirei o couro que o fechava. O livro abriu ao acaso e comecei a ler vagarosamente o conteúdo da página em questão. Todos ao redor do banco prenderam a respiração e quando terminei de ler, todos deram as mãos quase que por instinto e passaram a encarar a vela tremular.

O fogo oscilava a cada momento numa direção diferente, parecia que havia adquirido consciência própria. Todos estavam hipnotizados até que o fogo apagou, sem nenhum vento, ou razão. Ficamos em silêncio, no escuro. As mãos se soltaram.

Podia ouvir passos, alguém deve ter ido buscar uma lanterna ou fósforo. Até que alguém riscou um fósforo e acendeu a vela. Fiquei cego pela luz por um instante, mas quando voltei a enxergar percebi que estava só. Nenhum dos meus amigos estavam lá, nem mesmo quem acendeu a vela. Só pude sentir um quente perfurando minhas costas e todo o ar saindo dos meus pulmões impedindo de pedir por ajuda. Fiquei de pé mas sentia que cairia logo.

Não resisti, as pernas fraquejaram e fui ao chão. Nesse momento, acordei assustado, em meu quarto, meu irmão Erick dormia na cama de baixo como se nada tivesse acontecido. Fiquei extasiado com todo aquele sonho e como era real, não conseguia parar de repassar tudo que aconteceu. Quando finalmente aceitei que era tudo um sonho, deitei novamente com extrema euforia, mal podia esperar para contar para Lara, ela ia amar escrever sobre esse sonho, afinal ela é a irmã com o dom da escrita. E com esses pensamentos me afoguei no meu sono mais uma vez.

Fonte da imagem:shitilearnedinmy20s

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